O Amazonas atravessa um período crítico em relação às queimadas e incêndios florestais. Agosto de 2024 registrou 38 mil focos de calor, marcando o mês mais devastador em 14 anos, um aumento de 120% em comparação ao mesmo período de 2023. Apuí, um dos municípios mais afetados, concentrou 9,2% dos focos de queimadas na Amazônia Legal, com cerca de 3.769 pontos de incêndio. A situação é agravada pela seca precoce e pela intensificação da estação seca, o que levanta preocupações sobre a extensão das queimadas nos próximos meses.
A predominância das queimadas na Amazônia, que representa 50% dos focos nacionais, coloca em alerta o bioma e a saúde da população. Estudos apontam que a degradação da floresta pode perdurar enquanto fatores como a seca e o uso do fogo para fins agrícolas continuarem sendo uma prática comum na região. O analista de geoprocessamento Heitor Pinheiro, do Observatório BR-319, prevê que os focos de incêndio seguirão crescendo em setembro, com o uso de queimadas para preparar áreas de plantio.
As cinco cidades mais afetadas pelas queimadas, incluindo São Félix do Xingu e Apuí, somam quase metade dos focos de calor do país, segundo dados do INPE. Especialistas, como Erika Berenguer, pesquisadora das universidades de Oxford e Lancaster, alertam que a prolongação da estação seca torna a floresta mais suscetível a incêndios, especialmente na fronteira do desmatamento entre Amazonas, Acre e Rondônia. Segundo Berenguer, o fogo é utilizado como ferramenta de desmatamento para a formação de pastagens, contribuindo significativamente para a devastação florestal.
No contexto climático, o fenômeno El Niño, ainda que menos intenso do que o registrado em 2015, tem exacerbado os impactos das queimadas, elevando a temperatura e secando o solo. Segundo Erika, os efeitos das mudanças climáticas são visíveis, e a floresta já mostra sinais de degradação antes mesmo de 2050.
Enquanto isso, a resposta das autoridades do Amazonas para conter as queimadas tem sido insuficiente. O governador Wilson Lima decretou emergência ambiental em 22 municípios, proibindo o uso de fogo, mas, de acordo com organizações locais, o número de brigadistas e recursos para combate aos incêndios ainda está aquém das necessidades da região.
A realidade dos municípios é impactante. Em Lábrea, por exemplo, a fumaça tornou o céu opaco durante o tradicional evento “Festa do Sol”, que, mesmo sob essas condições, reuniu milhares de pessoas. O prefeito de Lábrea, Gean Barros, priorizou a festividade sem mencionar medidas de proteção contra a poluição causada pela fumaça, o que foi criticado por líderes locais.
A luta contra as queimadas no Amazonas continua, e especialistas alertam que o cenário exige não apenas combate direto ao fogo, mas também políticas de prevenção e controle eficazes para preservar a floresta e proteger a saúde da população.